Sempre me interessei por parábolas. Desde pequeno – pouca idade – me encantava ouvir os adultos contando histórias. Umas verdadeiras, outras mentiras deslavadas, mas, pra mim pouco importava a veracidade dos fatos narrados. Eu viajava. E quanto mais absurdos eram os contos, ai que eu gostava mais. O tempo foi passando e eu fui pegando cada vez mais gosto, então comecei a me aventurar nesse fantástico mundo de narrador de histórias, contos, fábulas e parábolas. Nada profissional, apenas nas rodas de amigos, confraternizações e às vezes para alguém em especial. A primeira coisa que eu aprendi como narrador foi que depois de contar a mesma história várias vezes, ela passa a ser sua. Por isso, logo abaixo, vou narrar a minha parábola preferida.
Era uma ilha habitada por vários sentimentos. Ela Era enorme. Tinha um formato engraçado de concha. Os sentimentos construíram suas casinhas bem no centro dela, uma do ladinho da outra. Entre todos os sentimentos o Amor era o mais preocupado. Ele era tipo o guardião, vigiava a ilha todos os dias, andando ao redor dela. Num anoitecer, enquanto fitava o horizonte cinzento sem rumo certo, o Amor percebeu que logo viria uma grande tempestade. Ele sabia, que se ela fosse muito forte era capaz de alagar toda sua ilha.
O Amor não teve dúvida. Imediatamente desceu até o centro e bateu casa por casa, avisando os outros sentimentos da tempestade que estava prestes a acontecer.
- Olá Felicidade, enquanto Eu apreciava o horizonte notei que vem chegando uma tempestade e pelo jeito vai ser muito forte. Por isso, prepara seu barquinho pra quando ela chegar, você poder remar até o ponto alto da ilha, lá estará seguro. – A Felicidade agradeceu e foi preparar seu barco.
E o Amor continuou, avisando os sentimos, um por um. Avisou a Saudade, o Carinho, a Vaidade, a Ternura, a Paixão, todos, não se esqueceu de ninguém. Só que naquela ansiedade, naquele desespero de avisar todos eles, o Amor esqueceu-se dele mesmo. Esqueceu de prepara o barco. Não dava mais tempo. A tempestade já estava caindo. Lá estava o amor, no meio da rua alagada, sozinho e sem o seu barquinho. Mas nada estava perdido ainda. Os outros sentimentos estavam remando em direção do ponto alto da ilha. Alguém podia levar o Amor. Foi então que passou a Felicidade perto dele e o Amor disse:
-Olá Felicidade, leve-me contigo! Esqueci de preparar meu barco. – A Felicidade respondeu:
-Ah! Eu não posso Amor, estou com muita pressa. Não posso parar.
Mas, o amor não desistiu, avistou a Paixão e disse:
Olá Paixão, leve-me contigo! Esqueci de preparar meu barco. – A Paixão respondeu gritando:
-Eu não posso. A tempestade está muito forte, se eu parar, posso morrer!
O Amor, quase se afogando conseguiu segurar na beirada do barco da vaidade e disse:
-Vaidade, leve-me contigo! Estou morrendo! – A Vaidade respondeu:
-Amor! Aqui não cabe mais ninguém e larga do meu barco você pode estragá-lo.
Então o Amor, praticamente submerso, desistiu de lutar pela vida. Ele não tinha mais forças. No momento que seu corpo já ia sendo levado pela água, o Amor sentiu uma mão forte lhe puxando para dentro de um barco. Ele não conseguia acreditar, algum sentimento estava lhe salvando. No barco, ainda desorientado, o Amor mal conseguia enxergar o semblante do seu herói.
Duas horas depois, são e salvo no ponto alto da ilha, o Amor se desperta totalmente. Do lado dele estava a Sabedoria. Foi então que o Amor perguntou:
-Sabedoria, vários sentimentos me viram quase morrer e ninguém fez nada. Responda-me quem foi aquele que me salvou?
Então a Sabedoria respondeu:
-Amor! Aquele que te salvou foi o Tempo, o único capaz de reconhecer um grande AMOR!
FIM!
Confesso que até hoje me emociono!